06/03/2011

As Origens da Agressividade Humana.

A agressividade é uma característica comportamental típica dos animais. No caso do ser
humano, este tipo de comportamento é influenciado tanto por fatores biológicos como
sócio-culturais, e pode acarretar em sérios problemas tanto para sujeitos agressores
como para vítimas de agressão. Conhecer os fatores evolutivos e ontogenéticos que
influenciam a agressividade humana é portanto extremamente relevante não só para a
compreensão teórica deste comportamento, como também para possíveis medidas de
prevenção.
Um exemplo de transtorno que vem sendo estudado pela assim denominada psicopatologia evolucionista é a sociopatia. O desafio, nesse caso, é explicar como a evolução pode ter favorecido comportamentos altruístas e, ao mesmo tempo, ter permitido a ocorrência de comportamentos anti-sociais. Para alguns teóricos, a questão é que assim como em outras espécies é possível observar aquilo que, em biologia evolutiva, denomina-se seleção dependente de freqüência, o mesmo poderia ser verificado no caso da sociopatia.
Dito de outra forma, o transtorno estaria relacionado à propagação de um genótipo responsável por comportamentos mais agressivos e até vantajosos na luta pela sobrevivência. Em contrapartida, um aumento na freqüência de expressões desse mesmo genótipo abalaria a ordem social. A idéia central, nesse caso, parece ser a de que o processo depurativo gerado pela seleção natural tolera, até certo ponto, alguns transtornos pouco adaptados.

Os estudos da agressão ou violência assim como o da sexualidade são tidos como próprios para uma abordagem inter-disciplinar, pois o seu enquadramento em qualquer uma das disciplinas científicas revela-se insuficiente. Já aceitamos com naturalidade a expressão Sexologia como uma espécie de inter-ciência que reuniu: Psicologia; Antropologia e diversas especialidades médicas (Ginecologia; Urologia; Psiquiatria; Endocrinologia) além das disciplinas básicas que cuidam da descrição anatômica e pesquisa das funções do aparelho reprodutor humano Fisiologia sendo ainda mais comuns estudos com o enfoque clínico visando ao tratamento das disfunções sexuais e da da infertilidade e/ou da contracepção fundamentados em critérios sociológico–demográficos.
Os estudos da agressão, já denominados agressiologia (Agressiologie na França em 1983) [4] parecem seguir a mesma tendência de agregação multidisciplinar situando-se porém o enfoque dominante na área jurídica – a criminologia e não médica, São inúmeras as contribuições das Ciências Sociais, Psicologia e Ciências Biológicas em especial a Etologia e mais recentemente da Saúde Pública face a elevação da agressão como causa de morte em populações

Classificando a agressão humana

Agressão hostil (hostilidade)
É um tipo de agressão emocional e geralmente impulsiva. É um comportamento que visa a causar danos ao outro, independentemente de qualquer vantagem que se possa obter. Estamos face a uma agressão hostil quando, por exemplo, um condutor bate propositadamente na traseira do automóvel que o ultrapassou. Este comportamento só trouxe desvantagens para o próprio: tem de pagar os danos do seu carro, do carro do outro condutor, podendo ainda vir a ter problemas com a justiça. O termo raiva pode designar esse sentimento em opósição à agressão premeditada.
Agressão instrumental
É um tipo de agressão em que visa a um objecto, que tem por fim conseguir algo independentemente do dano que possa causar. É, frequentemente, planejada e, portanto, não impulsiva. Podemos apontar como exemplo de agressão instrumental o assalto a um banco: pode ocorrer no decurso da acção uma agressão, mas não é esse o objectivo. O seu fim é conseguir o dinheiro, a agressão que possa surgir é um subproduto da acção.
Agressão directa
O comportamento agressivo dirige-se à pessoa ou ao objecto que justifica a agressão. Na agressão sexual o objeto almejado confunde-se com o motivo da agressão na categoria acima descrita. Os motivos fúteis opõem-se à defesa da vida como critério de gravidade do ato agressivo.
Agressão deslocada
O sujeito dirige a agressão a um alvo que não é responsável pela causa que lhe deu origem. Em animais também se observa esse mecanismo de controle dos impulsos agressivos.
Auto-agressão
O sujeito desloca a agressão para si próprio.
Agressão aberta
Este tipo de agressão, que se pode manifestar pela violência física ou psicológica, é explicita, isto é, concretiza-se, por exemplo, em espancamentos, ataques à auto-estima, humilhações.
Agressão dissimulada
Este tipo de agressão recorre a meios não abertos para agredir. O sarcasmo e o cinismo são formas de agressão que visam a provocar o outro, feri-lo na sua auto-estima, gerando ansiedade. A teoria psicanalítica tem como explicação desta forma de agressão a motivação inconsciente
Agressão inibida
Como o proprio nome indica, o sujeito não manifesta agressão para com o outro, mas dirige-se a si próprio. O sentimento de rancor é um exemplo desta forma de expressão da agressão. Algumas teorias psicológicas têm a agressão inibida como causa de diversas doenças psicossomáticas. O grau mais severo do rancor pode ser designado por ódio contudo ainda não existe um consenso para essa terminologia.

Causas da Agressão

De acordo com Wierviorka, 1997, os problemas da violência estão ligados a representações sociais que os codificam positiva ou negativamente. Associado ao conceito de violência voluntária surgem os conceitos de abuso, agressão e agressividade.
A Agressividade, com base nos estudos de Winnicott, representa um instinto próprio a todo ser humano, necessário para a sua existência. Opinião da qual partilha o etólogo Konrad Lorenz.
A agressividade é sinônimo da motilidade, algo vital que o bebê adquire nos seus primeiros meses de vida, em seu contato com o ambiente. O comportamento agressivo faz parte da vida humana, devendo ser encarado como normal. Winnicott ilustra sua definição através do comportamento da criança. A princípio ela esgota os seus pais, mesmo sem saber, depois os esgota sabendo e, por fim, esgota-os furiosamente, com cansaço.
A manifestações das pulsões agressivas enquanto perversões ou substratos das neuroses e psicoses vai depender do modo como a criança interage com o amor de seus pais na formação de sua identidade e superação do complexo de édipo. Do mapa que a psicanálise oferece das pulsões sem dúvida, as associadas à fase anal sádica são as mais temíveis, examinando casos clínicos associados à crueldade humana, a ressistência à cura e à guerra Sigmund Freud propôs a concepção de instinto de morte (Tânatos), o que corresponde à fonte das motivações agressivas humanas nos termos da psicologia.
Actualmente, face à hipótese da catarse, ainda existem dúvidas acerca do impacto da violência veiculada através da televisão e do cinema na sociedade ocidental. Alguns especialistas julgam que esse tipo de exposição poderá aumentar a propensão da audiência a desenvolver algum tipo de agressividade subsequente na vida real. Além disso, as taxas de criminalidade e violência parecem também estar relacionadas com a programação da TV.
As constantes manifestações de agressividade com a qual a criança convive (família, televisão e social) contribuem de forma acentuada para a reprodução desses comportamentos aprendidos.
Do ponto de vista da genética apesar de ser nítido em algumas espécies e/ou nas variedades de uma espécie (cães por exemplo) a predominância de comportamentos agressivos na sua adaptação ainda não há consenso sobre a existência de genes para agressão e mesmo sobre doenças genéticas que possua a agressividade como característica patognomônica, a exemplo da Síndrome XYY e Epilepsia do lobo temporal especialmente quanto a determinação genética dessa última
A Gênese da sociopatia e personalidades sádicas e agressivas tem que ser consideradas de natureza multifatorial envolvendo tanta características da origem psicossocial como biológica.


Referências

  1. LORENZ, K.A agressão, uma história natural do mal. Lisboa, Moraes, 1973
  2. DOLLARD, John et al. Frustração e agressão. in: Megargee, E.I.; Hokanson , J.E. (orgs) A dinâmica da agressão, análise de indivíduos grupos e nações. SP, EPU, EDUSP, 1976
  3. LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. sp, Martins Fontes, 2001
  4. LABORIT, HENRI. Os mecanismos da agressividade. Correio da UNESCO ano 12, n3, 25-29, março de 1983
  5. Dahlberg, L.L., Krug, E.G. Violência: um problema global de saúde pública. Ciênc. saúde coletiva vol.11 suppl.0 Rio de Janeiro 2006. Disponível em .pdf (Dez.2010)
  6. FREUD, S. Além do Princípio de Prazer. In: Obras psicológicas completas: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, (1920) 1996
  7. SAKAMOTO, Américo C. Expressão das crises límbicas em adultos. Escola Latino Americana de Verão de Epilepsia Material didático (Dez. 2010)

Comportamento Lúdico

Comportamento de Crianças - a importância do lúdico
Quando se trata de questões relacionadas à educação de crianças pequenas, muitos pais sentem a angústia de lidar com os limites em especial.
A partir dos dois anos aproximadamente, muitas crianças começam a desenvolver mais autonomia e a manifestar com mais força seus desejos, vontades e protestos frente a um desejo.
Nesse momento, muitas mamães e papais começam a enlouquecer e muitas vezes recorrem ao famoso tapinha.
A proposta deste artigo é discutir uma forma alternativa à punição física, seja esta um tapinha na mão ou uma surra.
Longe de propor soluções mágicas e imediatas, pensar em alternativas lúdicas é um proposta de aproximação do mundo adulto ao mundo da criança.
Um exemplo, muitas vezes a criança pequena se nega a ir ao banheiro quando acorda e a cada investida dos pais com frases objetivas e racionais, a criança se retrai e mantém a famosa birra ou o comportamento indesejado, se negando a ir ao banheiro.
Os pais lançam mão de argumentos muito pertinentes, como por exemplo, dizer a criança que ao acordar todo mundo precisa fazer xixi, depois escovar os dentes, que precisa ir para escolinha, que todos fazem isso e no entanto, para criança esse amontoado de frases nada significa.
Veja bem, as explicações são necessárias e devem ser mantidas, contudo não precisam ser a única forma de persuasão. Nesse momento, os pais podem lançar mão de brincadeiras, do tipo ver quem chega primeiro ao banheiro ou que um bonequinho (pelúcia, ou carrinho, boneca, etc) irá ao banheiro e vai fazer tudo antes da
criança e vai chegar primeiro ao banheiro.
Ex. Já que você não quer ir ao banheiro, vou levar o Sr. Caminhão para fazer xixi e escovar os dentes...
Encenar a situação com o brinquedo diverte a criança e trás uma referência do mundo infantil para algo que ela deve fazer.
É incrível como as crianças respondem com rapidez aos apelos imaginários e lúdicos que tragam o processo de aprendizagem de forma divertida.



Ludoterapia Comportamental

O que é ludoterapia comportamental ?
A ludoterapia é uma forma de psicoterapia cuja meta é promover ou restabelecer o bem estar psicológico do indivíduo através de atividades lúdicas; no contexto de desenvolvimento social da criança a atividade lúdica é parte do repertório infantil e integra dimensões da interação humana necessárias na análise psicológica (regras, cadeias comportamentais, simulações ou faz-de-conta, aprendizagem observacional e modelagem); esta possibilidade de uso integrado de diversas técnicas talvez explique a aplicação da ludoterapia a diversas questões relativas ao comportamento de crianças (traumas psíquicos, abuso sexual, retardo, adoção, orientação a filhos de dependentes químicos) e de adultos (Schaefer,1994; Silvares, 2001). Nas décadas de sessenta e setenta, o atendimento comumente realizado em terapia comportamental para criancas era realizado via implementação de  um programa que previa a administração de reforço positivo, punição, extinção, biofeedback e contrato de contingência dentre outras intervenções. Em alguns casos, as intervenções eram implementadas pelos pais com o mínimo de contato entre terapeuta e criança (Azrin e Foxx, 1974; Knell, 1993). Segundo Knell 1993), intervenções nas quais há pouco contato entre terapeuta e criança negligenciam a participação ativa da criança no atendimento e são pouco eficazes nos casos onde há conflitos entre a criança e os responsáveis pelas implementações de intervenções (em geral, os pais). O seguimento das orientações por parte dos pais é fundamental para o atendimento. Os principais fatores que afetam a adesão ao atendimento são o nível educacional dos pais, a empatia da terapeuta face aos sentimentos ou reações emocionais dos pais e interação terapeuta-cliente. O modelo de atendimento em ludoterapia apresentado a seguir foi elaborado a partir da especificação de alguns fatores que podem afetar a relação terapeuta-cliente  (Mettel, 1986).
Avaliação em ludoterapia comportamental
    A avaliação tem duração a proximada de três semanas e segue a seguinte ordem: entrevistas com os pais, visita à escola e sessões lúdicas com a criança. Nesta etapa, é solicitado aos pais registros sobre 1) o comportamento do filho, 2) a frequência de ocorrência do comportamento e 3) verbalizações do filho relacionadas à queixa principal; 4) escalas de temperamento; 5) questionário das atividades de vida diária, seguimento de regra, alimentação, atividades lúdicas e relacionamento social da criança (Windholz, 1988) e 6) um questionário específico sobre a queixa.
Visita à escola da Criança
    Realiza-se visita à escola com o objetivo de observar e registrar a interação da crianca com os colegas assim como contactar os técnicos da escola, como são realizadas as atividades solicitadas pela professora, brincadeiras com os colegas, autonomia nas atividades escolares e de vida diária exigidas pela escola (guardar os brinquedos com os quais brinca por exemplo).
Visita à casa da criança
    É realizada uma visita à casa com o objetivo de observar o comportamento da criança e o local da casa reservado às atividades lúdicas; a relação entre as regras da casa e o comportamento da criança e realização das atividades de vida diárias. A visita à casa permite observarcomo a criança explora os brinquedos nos espaços disponíveis para brincar; e a sequência de eventos que antecedem a ocorrência dos comportamentos inadequados. Em alguns casos é realizada intervenção no momento em que ocorre o comportamento (cf. exemplo em Gomes, 1998).
Sessões lúdicas de psicodiagnóstico
    São realizadas sessões lúdicas com o objetivo avaliar o comportamento lúdico da criança. Nas sessões lúdicas, realizadas com  a presença da mãe ou do pai conforme o nível de habituação e sensibilização da criança ao consultório, são registrados o tipo de brinquedo, número de brinquedos com os quais a criança brinca, preferência por brinquedos, qualidade do brinquedo, o uso funcional e o tempo de permanência em cada brinquedo (Windholz, 1988; Bomtempo, 1992). A avaliação das sessões lúdicas indicam 1) se e como a crianca reproduz nas sessões lúdicas acontecimentos do cotidiano (separação dos pais, a rotina diária e o padrão alimentação), 2) alteração no padrão lúdico (tempo de permanência nas atividades lúdicas comparativamente às crianças da mesma faixa etária), 3) comportamento assertivo e seguimento das regras estabelecidas na situação lúdica e 4) as informações fornecidas pela mãe sobre autonomia nas atividades de vida diária e relacionamento social foram corroboradas. O papel da terapeuta é reforcar as situações de autonomia da criança nas situações de escolha de brinquedos ou de autonomia (realizar a atividade sem auxílio).
Laudo
    A partir dos dados fornecidos pelos pais, observações nas sessões lúdicas no consultório, na escola e na casa da criança é elaborado e entregue aos pais um laudo por escrito que relaciona aspectos do ambiente físico (por exemplo, mudança de residência) e social (e.g., regras sociais), e a reação psicológica da criança.
Sensibilização é uma das formas mais elementares de aprendizagem e é definida como um aumento na força da resposta reflexa resultante da ocorrência de um estímulo novo e aversivo. Aprendizagem ocorre quando, gradualmente, o organismo se habitua à resposta sensibilizada, isto é, a resposta sensibilizada diminui após repetições do estímulo (Sato, 1995).
Recentemente, a relação entre habituação e temperamento tem sido estabelecida através de estudos longitudinais (Smith, Dixon, Jankowski, Sanscrainte, Davidson e Loboschefski, 1997); tais estudos mostram que a taxa de habituação de bebês (tempo de observação total, número de tentativas para atingir o critério de habituação e tempo de fixação de estímulos novos) é significativamente associada com cinco dentre nove dimensões de temperamento (adaptabilidade, nível de atividade, humor, distratibilidade, força da resposta e persitência).
Tais estudos podem ser relacionados aos trabalhos clássicos de Pavlov, Strelau e Eysenck sobre o papel do temperamento na adaptação do indivíduo ao ambiente; tenho sugerido em trabalhos prévios (Gomes, 1998; Coelho, 2000) que algumas dimensões de temperamento (e.g., adaptabilidade, nível de atividade, humor, distratibilidade, força da resposta e persitência) sejam agrupadas em dois fatores: habituação e sensibilização .
Intervenções
    As sessões lúdicas têm como objetivo de 1) habituar a criança às atividades lúdicas e, através de tais atividades, promover ou restabelecer o bem estar da criança enfatizando parte de uma cadeia de atividades de vida diária; e 2) reforçar positivamente a criança nos contextos de autonomia e assertividade. Os pais são orientados sobre aprendizagens inadequadas que podem ocorrer ao longo do desenvolvimento da criança. São discutidas crenças comuns aos pais (a aplicação do termo “culpa”, por exemplo, é aplicado de modo inadequado em casos de encoprese) e  os pais são orientados acerca das reações sobre as quais a criança ainda aprendeu a exercer controle. As atividades lúdicas são escolhidas pela criança. A biblioterapia, uso de livros para abordar temas específicos relacionados ao tratamento, é uma forma de intervenção utilizada para alcançar os objetivos estabelecidos (Coelho, 2000; Knell, 1993; 1994).
Conclusão
As intervenções psicológicas realizadas no contexto da ludoterapia (habituação e dessensibilização ao ambiente, biblioterapia, orientação aos pais e seguimento das instruções) possibilitam o restabelecimento do bem estar do indivíduo. A participação dos pais no atendimento é essencial para que 1) as crianças avaliem o consultório como um ambiente agradável e de confiança.
Matheny (1991) e Gomes (1998) sugerem que sensibilização e habituação em situações lúdicas e no comportamento exploratório sejam interpretados como medidas de temperamento infantil. Por exemplo, as escalas de temperamento de Presley e Martin (1994) procuram especificar reações mais frequentes das crianças diante de mudanças nas condições do ambiente físico e social sensibilização.    
Referências bibliográficas
Azrin, N.H. e Foxx, R.M. (1974) Toilet training in less than a day . New York: Simon and Schuster.
Bomtempo, E. (1992) Brinquedoteca: espaço de observação da criança e do brinquedo. Em O Direito de Brincar: A Brinquedoteca . São Paulo: Scritta Editorial.
Bosa, C. A. e Piccinini, C.A. (1994) temperamento infantil e apego mãe-criança: considerações teóricas, Psicologia: Teoria e Pesquisa, 10, 193-212.
Gomes, L.S. (1998) Um estudo de caso de encoprese em ludoterapia comportamental. Psicologia: Ciência e Profissão, 3 , 54-61.
Coelho, L.S.G (2000) Encoprese e constipação em gêmeos: um estudo de caso em ludoterapia comportamental. Psicologia: Ciência e Profissão , 5, 56-64.
Knell, S.M. (1990) Cognitive-behavioral play therapy in the treatment of encopresis, Journal of Clinical Child Psychology, 19, 55-60.
Knell, S.M.(1995) Cognitive Behavioral Play Therapy. New Jersey: Aronson.
Neri, A.L. (1987) Modificação do comportamento infantil. São Paulo: Papirus.
Mettel, T.P.L. (1986) A relação terapeuta-cliente sob o enfoque comportamental: algumas considerações. Em J.L.O. Bueno (Org.) O estudo do comportamento: pesquisa e prática no Brasil. Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto.
Sato, T. (1995) Habituação e sensibilização comportamental, Psicologia USP, 6, 231-276
Schaefer (1994) Play therapy for psychic trauma in children. Em K.J. O´Connor & C.E. Schaefer Handbook of Play Therapy. Advances and     Innovations. New York: Wiley.
Silvares, E.S. (2001) Ludoterapia cognitivo-comportamental com crianças agressivas. Em H. J. Guilhardi; M. B. B. P. Madi; P. P. Queiroz e M.C. Scoz (Orgs.). Sobre Comportamento e Cognição vol 7.  1 ed.  Santo Andre,  p. 189-199.
Smith, P.H; Dixon, W.E.; Jankowski, J.J.; Sanscrainte, M.M; Davidson, B.K.; Loboschefski, T. (1997) Longitudinal relationships between habituation and temperament in infancy, Merrill-Palmer Quarterly, 43, 2, 291-304.
Walten, F.N. (1979) Habituation model of systematic desensitization, Psychological Bulletin, 86, 3, 627-637.
Windholz, M. H. (1988) Passo a Passo, seu caminho. Sao Paulo: Edicon.

Sex Appeal

O QUE NOS TORNA MAIS SEXY?
Você já se perguntou o que é o sex appeal? Este termo anglo-saxão tão familiar é imediatamente identificado com a atração física e sexual, ou com o conjunto de características que tornam uma pessoa física ou sexualmente mais sedutora. Mas quais são estas características? Por que uma pessoa nos atrai mais que outras? Evidentemente, ambas as perguntas tem sido objeto de todo tipo de estudos em universidades e instituições científicas. Apesar de ser difícil chegar a conclusões 100% acertadas, existem certos fatores que parecem interferir no secreto e complexo mundo da atração. Entre eles, a importância do casal se apoiar nas mesmas crenças, gostos e valores; a complementaridade (os casamentos felizes se baseiam na capacidade de cada um de satisfazer as necessidades do outro); a competência; a atração física (certos estudos indicam que as pessoas de grande beleza física também são percebidas como psicologicamente atraentes); e a cultura, seja entendida como sabedoria (conjunto de conhecimentos que permite a alguém desenvolver um julgamento crítico) ou como expressão das tradições de um determinado povo. Neste sentido, entende-se que as pessoas que vivem em países distantes de sua terra natal se aproximem dos que entendem e compartilham o mesmo sentimento cultural. No entanto, não se deve esquecer que as diferentes culturas também possuem critérios muito diversos sobre o que constitui a beleza física, variando inclusive com o passar do tempo. Pode-se observar isso em relação à figura da mulher ideal. Em geral, sempre se considerou que a beleza facial era mais importante na mulher que no homem. Mas nos últimos anos, seu peso e sua estatura têm determinado o padrão de beleza por excelência.Por outro lado, certos autores também consideram que as pessoas percebem seus sentimentos pelo outro em termos de utilidade, ou seja, quanto maior a recompensa, maior é a atração. Em outros termos, nossas atitudes em relação aos outros podem ser influenciadas pela avaliação das recompensas que eles podem nos proporcionar. Por isso, muitas pessoas se sentem atraídas por outras de maior poder aquisitivo. 
 
O PERFUME E O SOM DO SEX APPEAL
Mas os menos favorecidos fisicamente não precisam se sentir mal, já que nem tudo parece depender das características da pessoa e da simetria do seu corpo ou rosto. O odor e os sons também podem ser indispensáveis para alcançar o maior nível possível de sex appeal.Segundo um estudo da Universidade Charles, de Praga, o odor das mulheres pode torná-las mais atraentes ou repelentes aos homens dependendo do período do mês em que se encontram. Uma mulher que está em uma fase mais fértil do ciclo menstrual apresenta um odor muito mais suave nas axilas. O contrário ocorre durante a menstruação, quando emite um odor mais forte e repulsivo.Além disso, segundo um estudo da Universidade de St. Andrews, na Inglaterra, quando as mulheres estão em seu período fértil, elas optam por homens com tons de voz mais graves e profundos. Esta preferência por vozes mais masculinas deve-se à percepção de que indicam boa saúde e maiores chances de sucesso reprodutivo. Por outro lado, os pesquisadores descobriram que as mulheres que não estão no período fértil tendem a escolher vozes um pouco mais agudas, que são interpretadas como um sinal de homens carinhosos e propensos a uma relação de longo prazo. Também descobriram que as mulheres mais atraentes não mudam sua preferência segundo a etapa do ciclo menstrual, talvez porque lhes seja mais fácil estabelecer vínculos com homens de voz grave, um indicador de altos níveis de testosterona. Finalmente, un estudo psicológico da Universidade McGill de Montreal chegou à conclusão de que a música também estimula as mesmas regiões cerebrais responsáveis pelos impulsos sexuais. 
 
IR DIRETO AO PONTO
Além da teoria da importância da simetria do rosto e do corpo na hora da conquista, uma equipe de cientistas e psicólogos britânicos das universidades de Aberdeen, Durham e Saint Andrews acredita que não há nada como ir direto ao ponto ao “fazer a corte”. Segundo eles, em estudo apresentado no Festival da Ciência de Liverpool em setembro de 2008, o sucesso na conquista de um homem ou uma mulher está mais na determinação que na beleza. Os pesquisadores entrevistaram 230 homens e mulheres para determinar que papel desempenhavam distintos fatores na atração sexual ou emocional pelo outro sexo. Com base em suas respostas, eles chegaram à conclusão de que as feições da pessoa que deseja seduzir outra são menos relevantes que seu sorriso, sua capacidade de olhar diretamente nos olhos ou suas formas de se expressar de forma agradável.Nas palavras de Ben Jones, co-autor do estudo: “Investigações anteriores enfatizaram a importância de certas características físicas, como a simetria facial ou o tom de voz. Entretanto, este estudo demonstra que a capacidade de atração de um ser humano não é tão simples como parece. Não depende de uma pele perfeita ou de certos traços simétricos, mas sim de um processo muito mais complexo”.Segundo Jones, nosso cérebro combina dados sobre a beleza física e a atração que o outro parece sentir por nós. “Trata-se de distribuir nossos esforços sociais de uma forma inteligente”. O cérebro tem a tendência a não desperdiçar tempo demais nem com indivíduos que não sejam atraentes, nem com os que considera fora de seu alcance.

CIÊNCIA DO SEX APPEAL
Explora os processos subconscientes mais profundos envolvidos na atração entre os sexos, e como eles afloram externamente com todos os seus detalhes e especificidades. A atração sexual é uma mera questão de gosto ou uma equação biológica que espera ser resolvida? Ciência do Sex Appeal revela todas as nuances da atração humana com o objetivo de determinar sua condição genética, hormonal ou neurológica. Esta atração se baseia na visão, no odor, ou em pequenos e sutis sinais, como a voz e o movimento? Você nunca mais verá um estranho, o ser amado ou a si mesmo da mesma forma. Os cientistas sempre pensaram que as preferências dos casais eram completamente arbitrárias. Mas estudos recentes sugerem que certos fatores inconscientes, como o som e o odor, podem fazer com que as pessoas se sintam atraídas por outras. Os especialistas desde programa querem verificar se a secreção natural emitida por uma mulher para atrair um homem realmente afeta o nível de atração desde em relação a ela. Para isso, eles pedem a um grupo de homens que classifiquem o nível de atração de várias mulheres que aparecem em algumas fotografias. Durante o experimento, sem saber, os homens são expostos ao odor artificial da secreção de uma mulher – e então, todas as mulheres das fotos tornam-se atraentes para eles. Nos bares e clubes noturnos de todo o mundo, uma guerra bioquímica invisível está em andamento. Os homens segregam a androstenona, que repele as mulheres que não estão ovulando. As que estão secretam um odor específico, tornando-se mais sexies para os homens. Poderia esta secreção natural da mulher se converter em uma arma arma secreta do arsenal da atração?

A Experiência da Beleza

CORPO SIMÉTRICO – CIÊNCIA OU EVOLUÇÃO?
Ao longo do tempo, a ciência tem demonstrado que o cérebro humano, em diversas culturas, considera mais atraentes os rostos simétricos. Cientistas britânicos estenderam o estudo às medidas corporais e concluíram que o cérebro também parece preferir os corpos simétricos. Por quê? A resposta é simples. Em geral, um corpo harmônico indica saúde. E um corpo saudável representa um maior potencial reprodutivo, uma melhor “qualidade genética” e uma maior capacidade competitiva frente aos demais. A equipe de psicologia evolutiva da universidade britânica de Brunel criou imagens tridimensionais dos corpos de 40 homens e 37 mulheres de 21 anos. Eliminaram a cor da pele e dos cabelos para que os preconceitos não afetassem as respostas, e os mediram milimetricamente. Mais tarde, 87 jovens classificaram os corpos. A conclusão foi clara: aqueles que possuíam corpos simétricos também tinham maior sex appeal. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que as mulheres deveriam ter as pernas mais longas, a cintura fina, e os seios e quadris grandes – traços físicos que, segundo eles, são percebidos como indicadores de maior fertilidade. Já as mulheres preferem os homens com pernas fortes, torso grande e ombros largos.A explicação destes resultados parece estar na teoria da evolução: “Os sinais de força sugerem maior capacidade competitiva e maiores possibilidades de sobrevivência que os de debilidade”. Sempre se soube que os rostos simétricos pareciam ser percebidos pelo cérebro como mais atraentes. Mas a novidade está no fato de que a atração sexual também parece depender da simetria do corpo.

Beleza humana  

A caracterização de uma pessoa como “bonita”, de se em uma base individual ou pelo consenso da comunidade, é baseada frequentemente em alguma combinação beleza interna, que inclui fatores psicológicos tais como personalidade, inteligência, grace, encanto e elegance, e beleza exterior, que inclui fatores físicos, como saúde, juventude, simetria, averageness, e complexion. 

Uma maneira comum medir a beleza exterior, como baseada no consenso da comunidade, ou a opinião geral, são ao estágio a pageant da beleza, como Senhorita Universo. A beleza interna, entretanto, é mais difícil de quantify, embora os pageants da beleza reivindicam frequentemente fazer exame também deste na consideração.

Um indicador forte da beleza física é “averageness“, ou”koinophilia". Quando as imagens das caras humanas são calculadas a média junto para dar forma a uma imagem composta, tornam-se progressivamente mais perto da imagem “ideal” e estão percebidas como mais atrativas. Isto foi observado primeiramente em 1883, quando Francis Galton, primo de Charles Darwin, imagens compostas fotográficas cobertas das caras de vegetarianos e criminosos para ver se houver uma aparência facial típica para cada um. Ao fazer isto, observou que as imagens compostas eram mais atrativas comparadas a algumas das imagens individuais. Os investigadores replicated o resultado sob umas circunstâncias mais controladas e encontraram que o computador gerado, média matemática de uma série das caras está avaliado mais favoràvel do que as caras individuais.[9] Evolutionarily faz o sentido que as criaturas sexual devem ser atraídas aos mates que ostentam características predominantly comuns ou médias.[10] Seleção natural resultados, sobre o curso das gerações, em benéfico (ou “caiba”) características que substituem suas contrapartes desvantajosas. Esta é a força fundamental que dirige evolução, e é a introspecção principal na biologia que immortalized Charles Darwin. Assim, a seleção natural faz com que as características benéficas tornem-se cada vez mais mais comuns com cada geração, quando as características desvantajosas se tornarem cada vez mais raras. Uma criatura sexual, conseqüentemente, desejando acoplar-se com um sócio apto, esperar-se-ia evitar os indivíduos que ostentam características incomuns, ao especialmente ser atraído 2 aqueles indivíduos que indicam um predominance da terra comum ou características médias. Isto é denominado “koinophilia".

Sonhos

Imagine dois pontinhos. Agora, que você está acordado, eles vão ser só dois pontinhos mesmo. Mas no sono profundo é diferente. Se uma parte do cérebro imagina isso, outra área fica inspirada e cria um par de olhos. Mais outra pega e coloca esses olhos numa face. Se o rosto sair feio, a área mais burra da mente se assusta. E solta um comando mandando você correr. Começa o enredo de um sonho. Louco, mas a realidade não é muito mais sã. Pense em alguma coisa estúpida. "Martelo", por exemplo. Não existe nenhum lugar na sua cabeça com a definição da palavra "martelo". Tudo o que há é um mosaico de referências: a dor no dedo depois de uma martelada infeliz, a imagem da caixa de ferramentas do seu avô... Elas só se juntam de vez em quando para formar uma ideia sólida, igual acontece com os tijolos mentais que constroem os sonhos. A realidade e o sonhar, na verdade, se completam. E a ciência está descobrindo que uma não existe sem a outra. Vire a página para saber o que os sonhos realmente são. Isso se você não estiver sonhando neste momento.

Você tem 3 vidas paralelas. Uma é esta aqui, de quando você está acordado. Outra é o sono. O sonho é a terceira: duas horas por noite em que o corpo está paralisado, mas algumas áreas do cérebro ficam mais aceleradas do que o normal. Só que de um jeito diferente: de dia, a parte do cérebro que mais trabalha é o gerentão da mente: o córtex pré-frontal, o setor de massa cinzenta logo atrás da sua testa responsável pelo pensamento racional. No sonho é o contrário: essa área apaga e o resto funciona a toda.

Para entender melhor, pense no cérebro como uma escola. De samba. São várias áreas (ou alas, no caso) fazendo tarefas diferentes. Na vida acordada, cada uma faz seu trabalho bonitinho, sob o comando do córtex pré-frontal. Mas à noite é anarquia pura. Livres do controle da gerência, áreas que nunca interagem de dia começam a trocar informações feito loucas. Tipo: passistas da ala das memórias antigas se embrenham na do córtex visual (a parte que processa imagens). Nisso as memórias incitam a produção de um cenário do passado. E você pode sonhar com um lugar bonito para onde foi aos 6 anos de idade. Depois gente de outra ala, a das emoções profundas, aparece por lá. Aí o amor da sua vida pipoca naquela paisagem. E a festa na sua cabeça vai entrando pela noite. Cada vez mais doida.

Chega uma hora que ninguém é de ninguém. Tudo fica misturado. Aí você pode sonhar que seu escritório fica num barco, e que esse barco navega numa avenida. Quer sair voando? Beleza. Nem o pensamento racional nem a gravidade estão lá para impedir. A memória de curto prazo, que depende diretamente do córtex pré-frontal, está desligada também. Então os rostos mudam o tempo todo, você não consegue ler direito... Até por isso seu avatar do sonho é sempre disléxico.

Parece só uma farra mental. Mas não: os sonhos têm um propósito. E justamente o mais inesperado: eles tecem a realidade.

Como? Para começar, eles resolvem seus problemas. Foi o que concluiu um dos neurocientistas mais respeitados do mundo, Robert Stickgold, de Harvard. A base para isso foi uma experiência simples, feita neste ano. A equipe de Stickgold colocou 100 voluntários para andar num labirinto virtual, um daqueles 3D, de jogos tipo Counter Strike. O grupo foi posto para treinar as manhas do labirinto, aprender a navegar nele, por algum tempo. Depois deram um intervalo de 5 horas e chamaram o pessoal de volta para uma prova: ver quem conseguia achar a saída do labirinto mais rápido. Mas tinha um detalhe: os pesquisadores colocaram metade dos voluntários para tirar um cochilo de duas horas. O resto ficou acordado. Na volta, o time dos dormidos se deu ligeiramente melhor que o dos despertos - demoravam alguns segundos a menos para encontrar a saída.

Até aí, nada de mais. Mas veio uma surpresa. Entre os que foram dormir, alguns sonharam com o jogo. Esses tinham virado Ayrtons Sennas do labirinto: melhoraram seu tempo 10 vezes mais que os outros. Os cientistas ficaram eufóricos. Mais ainda depois de ler os relatos dos sonhadores. "O jogo me fez sonhar com uma caverna que visitei - e no sonho ela era tipo... tipo um labirinto", disse um. "Só ouvi a musiquinha do jogo no sonho", falou outro. Mas como isso pôde melhorar o desempenho deles?

Para Stickgold, essas imagens mentais eram apenas uma sombra do que o cérebro dos voluntários fazia de verdade. E o que ele fazia era processar o labirinto no meio da balbúrdia dos sonhos. No caso do rapaz que sonhou com a caverna, por exemplo, estava claro que o jogo se fundia às memórias antigas dele. Era como se a experiência nova, a de aprender a se virar no labirinto, estivesse entrando no meio da escola de samba desgovernada.

Stickgold imagina que, quando o cérebro digere alguma experiência dessa forma, ele faz algo especial: extrai o que há de mais importante nessa experiência. Aí ela fica mais compreensível. E você aprende algo novo sem se dar conta.

A conclusão é ambiciosa. Para o neurocientista, isso acontece com tudo o que o cérebro capta. Nada deixa de passar pela festa dos sonhos. É nela que peças do presente se encaixam com as do passado, formando a imagem mental que temos do mundo. Nessa imagem está tudo o que você sabe, do significado da palavra "martelo" até seus amores e traumas.

Não há uma prova definitiva de que é assim mesmo que tudo funciona. Mas as experiências de laboratório indicam que sim. E as da vida real também. É comum, por exemplo, acordar com uma ideia nova. Prontinha. Já aconteceu com você? Com Paul McCartney aconteceu. Numa manhã de 1965, ele acordou com uma música na cabeça, foi para o piano e tirou a melodia. Ficou estarrecido. "Não acreditava que ela pudesse ser minha", disse. Era, sim. E acabou gravada com o nome de Yesterday. Coincidência uma obra onírica ter virado o maior sucesso comercial da maior banda da história? Talvez não. Satisfaction, a mais célebre dos Stones, também apareceu num sonho - de Keith Richards.

Mas ninguém teve sonhos tão célebres quanto outro sujeito: Freud, que escreveu sobre o assunto usando em grande parte os próprios sonhos como base. Apesar dos avanços da neurociência, suas ideias sobre o mundo onírico continuam respeitadas. Faz sentido? Sim. E não.

A teoria de Freud: os sonhos são a manifestação de desejos reprimidos. Ponto. Vários sonhos, de fato, parecem ser isso mesmo. Se você está com sede, provavelmente vai sonhar que está bebendo água.

Mas o problema nela é óbvio. A maior parte dos sonhos não tem nada a ver com desejo. Uns são tão banais que não podem entrar nessa classificação. Outros são pesadelos. Alguém deseja morrer afogado por uma daquelas ondas gigantes de sonho? Ele sabia que não. Mas batia o pé: os desejos estariam quase sempre disfarçados. Sigmund explica: "Um dia falei para uma paciente, a mais inteligente das minhas sonhadoras, que os sonhos são a realização de desejos. No dia seguinte ela me contou ter sonhado que estava indo viajar com a madrasta", escreveu em seu A Interpretação dos Sonhos, de 1899. "Mas eu sabia que, antes, ela tinha protestado contra o fato de que teria de passar o verão na mesma vizinhança que a madrasta. De acordo com o sonho, então, eu estava errado. Mas era o desejo dela que eu estivesse errado, e esse desejo o sonho mostrou realizado." Acredite. Se quiser.

Por essas boa parte dos pesquisadores de hoje prefere tratar Freud mais como literatura do que como ciência. A gente sonha com água quando está com sede? Usando as analogias deste texto, a explicação seria: o pessoal do sistema límbico foi até a ala do córtex visual e disse que seu corpo estava com sede. O córtex pegou e criou uma imagem que tem a ver com sede. Sem drama. O sonho da paciente inteligente? Bom, às vezes uma viagem de trem com a madrasta é só uma viagem de trem com a madrasta...

Mas alguns cientistas defendem que as pesquisas modernas confirmaram muito do que Freud pensava. Allen Braun, um neurologista célebre, faz uma defesa sólida: "O fato de as regiões do cérebro responsáveis pela memória emocional e de longo prazo ficarem supercarregadas enquanto as do pensamento racional repousam pode ser visto em termos freudianos como o ‘ego’ saindo do comando e dando liberdade ao inconsciente", diz. Mas ele também acha a teoria de Freud defasada.

A interpretação moderna dos sonhos é mais complexa. Quem estuda a mente hoje olha com atenção para os detalhes do sonho de cada pessoa, sem correr atrás de interpretações genéricas. Usar símbolos universais, do tipo "sonhar com água significa x ou y", então, nem pensar. Isso seria subestimar o maior talento do cérebro sonhador : a capacidade de criar metáforas surpreendentes.

Ann Faraday, uma psicóloga americana especializada em sonhos, tem um bom exemplo dessa habilidade poética. Ela estava para ser entrevistada no programa de rádio de um certo Long John Nebel. Aí, na noite anterior, sonhou que um sujeito de ceroulas a ameaçava com uma metralhadora. Símbolo fálico, desejo sexual enrustido... Tem tudo aí. Mas não. A interpretação dela foi bem mais direta. Long John é "ceroula" em inglês, e o apresentador era conhecido por ser particularmente ferino. O sujeito de roupas íntimas, então, era uma metáfora que o cérebro dela arranjou para o nome do sujeito; e a metralhadora, uma para o medo que ela sentia de ser agredida na entrevista. Só isso.

E tudo isso. "Podemos aprender sobre as emoções que nos guiam na vida real se prestarmos atenção nos sonhos", diz o psiquiatra J. Allan Hobson, de Harvard. O exercício aí é tentar decifrar as metáforas dos sonhos, encontrar quais elementos da sua vida estão por trás delas - uma tarefa profunda e pessoal em que nenhum dos dicionários de sonhos já feitos desde a invenção da escrita vai poder ajudar.

E nem sempre será fácil. A psicóloga americana Rosalind Cartwright, por exemplo, concluiu algo paradoxal com base em anos de estudos: que os rejeitados num relacionamento que mais sonham com o ex são os que se recuperam mais rápido do baque da separação. Isso casa bem com as pesquisas de Stickgold: talvez seja o cérebro maquinando formas de lidar com o rompimento, dando um jeito de aliviar a dor. Mas não dá para ter certeza, só especular. Ainda há certas coisas entre a vida real e os sonhos que estão além da ciência. Para começar, não dá nem para saber se você vai acordar daqui a pouco e descobrir que tudo isso foi um sonho. Mas ok. No fundo, dá na mesma.