16/11/2012

Um estudo em Fenomenologia



SER E NÃO-SER

            Nós não somos, nós podemos ser. Quando dizemos que alguém “é”, estamos limitando-a a um único modo de ser, ou seja, dando um único sentido permanente e definitivo ao “ser” desta. O único estado permanente de ser do ser-humano é ser aberto em relação ao que vem ao nosso encontro, portanto, ser tocado pelas possibilidades de ser que a vida lhe traz para então acolhe-las, rejeita-las ou ficarmos indiferentes. Deste modo, estar fechado também é uma possibilidade de ser que nos toca, por sermos o tempo todo sensíveis ao mundo (abertos), ou seja, estar fechado também é uma possibilidade de ser como consequência de escolhas geradas por sermos abertos.
            Ser é estar consciente da sua existência, de que ali se encontra presente e que pode escolher a atitude que irá tomar, ou seja, o ser-humano é responsável pela sua própria existência e é isto que o torna ser-humano (Dasein).
            Ao tentarmos ser uma coisa só, não estamos abertos para novas possibilidades de ser, deste modo, precisamos sempre nos esvaziar, ou seja, não ser algo para podermos ser uma nova possibilidade e, como somos Dasein, “poder-ser-muitas-coisas” é um modo de ser em que colocamos o foco de acordo com o aqui-e-agora. Portanto, negar as possibilidades de ser é um modo inautêntico de viver, é ser falso consigo mesmo por ignorar seus sentimentos.
            O não-ser é não viver uma potencialidade de ser de forma plena/completa, porém, é parte inseparável do ser, de modo que devemos ter consciência de que também não somos. Quanto mais entramos em contato com o não-ser, mais autenticamente somos, pois quando entramos em confronto com um ser e um não-ser, sofremos uma ameaça de não-ser e a nossa existência assume vitalidade e objetividade, o indivíduo experimenta, então, o fortalecimento da consciência de si mesmo e de seu mundo.
            O homem também deve ter consciência de que em algum momento do futuro, não mais será, por isso, a relação dialética do ser e não-ser (morte). Assim, a morte é a forma mais ilustrativa da ameaça de não-ser, porém, nós podemos ser E não-ser, de modo que este “e” caracteriza como nós devemos sempre fazer escolhas sobre nossa existência, de acordo com o que somos tocados na vida. A morte deve ser encarada como mais uma das potencialidades de ser, pois, esta mostra a consciência da existência desta pessoa naquele momento, e qual escolha ela fez para ser/estar na sua própria vida. O conformismo conduz o ser humano à massa da sociedade, mergulhando em uma forma inautêntica e pouco individualizada de ser, portanto, a autoafirmação perante suas escolhas coerentes com o seu ser no aqui-agora, fica mais forte à medida que ele absorve mais a ideia e a ameaça de não-ser.
            Este conformismo inautêntico faz com que nos encontremos em um sentimento de angústia, pois, é característica inerente do ser humano ser tocado por novas possibilidades e ter uma necessidade de transcender. Assim, nos sentimos angustiados quando não somos coerentes com nosso ser e permanecemos em uma escolha contraditória. Existe, porém, uma angustia para a nova possibilidade que vamos mergulhar, e que nos faz caminhar previamente desaparelhados; a nova possibilidade é angustiante porque nos coloca em contato com o novo que nos dá a oportunidade de sermos desafiados e “reconstruídos”, pois quando esgotamos uma possibilidade de ser, já somos outro.
            Quando nos conformamos e mergulhamos na massa, o fazemos para não vivermos a angustia da nossa finitude (ameaça de não-ser, e não só constatar que vou morrer). Sempre que fazemos uma escolha de sermos algo, estamos excluindo outras, ou seja, não-sendo e isto exige a dor da perda de uma outra possibilidade.
            Portanto, o ser humano é uma existência que possui dimensões, deste modo, sempre nos colocamos de alguma maneira a essa dimensões: ser e não-ser. Essas dimensões nos caracterizam de uma maneira própria e única, cujo modo de ser é sempre um ser para fora, para o mundo, aberto, sensível para outros entes, porém, não segundo uma finalidade fundamentalmente, e sim por uma fascinação que podemos chamar de amor. Todos os seres humanos vivem esse modo de ser por pura fascinação e outros até a torna a sua razão de viver. Desta maneira estamos sempre enriquecendo as possibilidades de ser, que inclui, principalmente, a de existir abertamente ao diferente e acolher esse diferente.
            Existimos não para sobreviver, e sim para sermos uma ocasião de acontecimento, um florescimento, um desenvolvimento.

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